Por: Antonio Mata
A sala de aspecto confortável e arejada estava cheia de amigos e parentes. As conversas se sucediam em clima de alegre camaradagem entre os presentes.
Percorrendo o local e atendendo aos convivas, tinha em suas mãos um prato já servido. Achou fora de hora e estranho ficar andando com um prato nas mãos daquela maneira. Pois ainda era cedo para servir o almoço.
Talvez tivesse lhe ocorrido oferecer a um dos presentes. Mas, lhe incomodava o fato daquele despropósito. Quis se desfazer daquilo na primeira oportunidade e sumir com o prato fora de hora.
Lembrou-se de outros tempos, quando sua mãe gostava de ver a casa cheia e tratava de reunir os demais. Dias mais festivos. Impressões que o tempo levou.
Percebeu que uma e outra pessoa já olhavam para ela, como que indagando o que ela fazia. Pois, continuava andando de um lado para outro com o prato na mão.
Bastava pensar em se livrar do prato e sua mente parecia ser puxada para episódios nostálgicos. Coisas da infância e juventude. Sem que se desse conta, prosseguia com o prato na mão, tal e qual um adorno.
De súbito olhou para fora, por cima da mureta e do portão de acesso. Ali, outro grupo de pessoas se fazia presente. Um grupo de desconhecidos, do lado de fora, apenas aguardava.
Voltou a prestar atenção aos demais, presentes na sala. Pôde entender que pareciam não ver ou não se importar com o grupo logo atrás da mureta. Estes, lhes eram invisíveis.
Mas, como, se podia vê-los com muita clareza?
Acordou e de imediato, não compreendeu a pequena multidão na frente da casa. Menos ainda aquela história de ficar carregando a comida que ninguém pediu de um lado para outro.
Ninguém pediu? Tinha certeza?
Alguns sonhos são fantasiosos demais. Outros são bizarros e confusos. Ruins de se entender. A reunião com os convidados, o prato que insistia em circular e os invisíveis, que se faziam tão visíveis para uma pessoa só. Ora, o que o prato tinha a ver com toda aquela história?
Não é o prato, mas o que ele indica. O ato de servir. Ora alimentando o corpo, ora o espírito. Tudo o que se pede são olhos de ver e ouvidos de ouvir.